No ano em que se assinala o cinquentenário da Escola André Soares, a Semana da Leitura impõe-se como um momento privilegiado para refletir no que fomos, no que somos e no para onde queremos ir.
Há 50 anos, o acesso aos livros estava apenas ao alcance de alguns e nem todos tiveram a oportunidade de aprender e de crescer com os múltiplos ensinamentos neles contidos.
Impõe-se evocar a persistência, a cada dia reinventada, da Escola e, particularmente, das bibliotecas escolares, para formar mais e melhores leitores, semeando em todos vós, Homens que governarão o amanhã, a esperança de um mundo governado pela paz da poesia em que ‘A caneta seja, de facto, mais poderosa do que a espada’.
E porque este é também o ano do centenário do nosso Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, tornemo-lo presente e vivo através deste poema datado de tempos em que a escola André Soares tinha apenas um ano de vida.
Não me Peçam Razões…
Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.
Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.
Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.
José Saramago, Os Poemas Possíveis (1973)