Vida e Obra de André Soares



André Soares foi um arquitecto do século XVIII

André Soares foi um notável artista bracarense do Séc.XVIII, famoso pela excelência das suas obras e criador de uma versão muito pessoal do estilo barroco-rococó.
Não só na arquitectura e na escultura em pedra e madeira, mas também na pintura, ourivesaria, iluminura de códices e documentos, ferragem de bronze dourado e azulejo se veio a reflectir essa nova expressão soaresca, patente nos seus trabalhos existentes em Braga e noutros lugares, principalmente na província do Minho.
Inexplicavelmente, depois da sua morte caiu no esquecimento até que, em 1958, o professor Robert Smith lhe atribuiu a autoria da Igreja de Santa Maria Madalena, no monte da Falperra, e do seu retábulo principal. Documentos descobertos posteriormente revelaram várias obras suas e, por estudos comparativos, muitas outras lhe foram atribuídas, o que lhe restituiu o lugar destacado de que é merecedor, entre os grandes valores da arte portuguesa de Setecentos.
André Soares, de seu nome completo André Ribeiro Soares da Silva, nasceu em Braga no dia 30 de Novembro de 1720, na residência de seus pais, situada na rua do Souto. Era filho do comerciante João Soares da Silva, natural de Parada de Barbudo (Vila Verde ) e de Isabel Ribeiro, de Braga.
Pensando seguir a vida religiosa, tomou ordens menores no Seminário Arquidiocesano em Abril de 1737, mas no ano seguinte, entrou para a Irmandade do Doutor Angélico S. Tomás de Aquino, de que faziam parte jovens pertencentes a famílias distintas da cidade. Depois da morte do pai ( 1753 ), passou a viver com a mãe e o irmão mais velho, numa casa da rua de S. Miguel-o-Anjo. Morreu, solteiro, em 26 de Novembro de 1769, com apenas 49 anos de idade.
O seu talento natural levou-o a enveredar, desde cedo, por uma carreira artística que exerceu como amador, já que os recursos da família lhe permitiam não ter de trabalhar para sobreviver.
Quanto à sua aprendizagem artística, nada se sabe. É provável que tenha consultado livros e gravuras na biblioteca do Paço dos Arcebispos e noutras livrarias conventuais, que lhe terão permitido obter conhecimentos sobre as tendências barrocas seguidas em Portugal e no estrangeiro.
São inúmeras as obras de André Soares que enriquecem o património artístico de Braga e das zonas suburbanas do Bom Jesus, Falperra e Tibães. Todas elas reflectem a “ revolução” que então se registou nesta região, sobretudo no domínio da arquitectura e da talha, e justificam bem a designação de “ cidade soaresca ” atribuída a Braga por Robert Smith.
De todo esse legado, destacam-se alguns exemplares de arquitectura civil e religiosa, como a fachada do antigo Paço dos Arcebispos, hoje Biblioteca Pública; o magnífico Palacete do Raio; a harmoniosa Casa da Câmara; a Casa Roldão; o Arco da Porta Nova, construído postumamente; o interessante Oratório de N.ª S.ª da Torre; a extraordinária fachada da Igreja dos Congregados e Capela dos Monges ou da Senhora da Aparecida; o portal da Capela de Santa Teresa e a Igreja da Lapa, engastada na Arcada. A sua arte aparece também espelhada em excelentes trabalhos de talha (retábulos, sanefas e caixilhos), disseminados por vários templos.
Nas zonas periféricas da cidade sobressai, no monte da Falperra, a espectacular fachada da Igreja de Santa Maria Madalena; no Bom Jesus, várias capelas, chafarizes, tarjas e algumas estátuas, no espaço fronteiro ao Santuário e, na Igreja do convento de S. Martinho de Tibães, diversos trabalhos em talha dourada.
Espírito inquieto, André Soares foi procurando encontrar sempre novas soluções técnicas e artísticas, o que permite distinguir uma evolução durante as duas décadas em que exerceu a sua actividade.
São características da arte de André Soares os volumes, as conchearias, concheados irrompendo como “ asas ”, volutas, almofadas em alto relevo, superfícies lisas e planas segundo a fórmula de placas, escudos de vários perfis graduados, linhas sinuosas nas cimalhas, molduras arcuadas, verticalismo dos eixos centrais e dos frisos, assimetria dos motivos decorativos e um invulgar sentido de integração espacial. As suas obras são monumentais, cheias de movimento e de força. Conseguiu transmitir-lhes uma grande plasticidade, extremamente difícil de conseguir no caso dos trabalhos em granito.
Por tudo quanto realizou ao longo da sua breve existência, André Soares pode ser considerado, sem dúvida alguma, “ o vulto mais espantoso de toda a história artística bracarense ” (Eduardo Pires de Oliveira).
O seu nome honra a cidade de Braga, sua terra natal, e é motivo de orgulho para o nosso Agrupamento de Escolas, que o tem como patrono.

Algumas das suas obras

Capela Sta. Mª Madalena na Falperra
Obra ímpar no mais puro espírito Rococó onde sobressai a exuberante decoração exterior da sua fachada harmoniosa e bem desenhada. O contraste entre o cinza do granito e o branco do reboco, recortando formas luxuriantes de volutas, festões, grinaldas, florões e caprichosos concheados, produz um notável efeito e sensação de movimento. Há como que um eixo formado pela porta-janelão-escultura-frontão, traçado no corpo central que se encontra recuado em relação às duas torres.

Igreja dos Congregados
A arquitectura da fachada, toda ela em pedra, é a obra mais importante de André Soares. Na cornija, aos elementos que ele vai buscar à arte barroca da Baviera e Áustria, transmite-lhes uma característica sua, muito própria - uma grande plasticidade, coisa extremamente difícil de conseguir no granito. O frontão termina nessa cornija e é considerado um frontão excepcional.
Passando ao interior maneirista da Igreja, com o tecto em estuque, rococó simples, vê-se o altar lateral direito, com os seus motivos acolchoados e auriculares, cheios de movimento e de força.
Ainda nos Congregados, existe uma pequena capela lateral e interior - Capela da Senhora da Aparecida.
Esta capela é uma obra prima do rococó português. Num espaço curto, André Soares consegue meter uma grande carga de elementos barrocos juntos e com grande harmonia. Pega em fragmentos de arquitectura e junta-os, dando a impressão de esculturas. Todo este trabalho em estuque, dá a impressão de ser feito em pedra. O retábulo desta Capela tem duas espécies de aletas que lhe dão monumentalidade, apesar de pequeno. O frontão vem pela capela dentro, demonstrando André Soares, grande conhecimento e sensibilidade na forma de organizar os volumes.
Este arquitecto consegue aqui, de modo particular transmitir a força que trazia dentro de si para as obras que criava.

Palácio do Raio (1754/1756)
Os azulejos que preenchem a fachada, embora posteriores, são dos melhores exemplares que temos no Séc.XIX. A porta sobe pela varanda de pedra e vai fazer uma janela lembrando um retábulo, continuando para cima numa grande simplicidade.
Continuando o circuito, observa-se a Capela de S. Tiago, mandada construir pelos jesuítas, apresenta-se com uma fachada de grande simplicidade, reflectindo o espírito austero da Contra Reforma. Esta fachada contrasta com o interior.
Em 1755, com o terramoto, a cidade de Braga teria saído ilesa, tendo este facto sido aproveitado pela Igreja apelando ainda mais à religiosidade. Assim, na Igreja de Santiago saíam procissões frequentes e, como forma de gratidão, fez-se a Capela da Nossa Senhora da Torre (Oratório) neste mesmo Largo de Paulo Osório. É um pequeno edifício, de novo com grande monumentalidade que André Soares coloca nas suas obras. As "aletas" parecem chamar as pessoas.
Passando à Praça do Município, observa-se o edifício da Biblioteca, construído como sendo uma ala a mais do Paço do Arcebispo. Apresenta-se como sendo ainda uma obra muito presa a um esquema tradicional de arquitectura. No entanto, na parte central há um vigor maior.
Os motivos laterais da porta bem como os da janela interior, são interessantes. A varanda não é rectangular, havendo um certo angulado.

Edifício da Câmara
Desde o início da nacionalidade até 1790, Braga pertenceu aos arcebispos. O poder civil estava sempre sob o ângulo de visão de Igreja. O edifício da Câmara, cujo arquitecto vai ser novamente André Soares, estaria assim bem posicionado. Foi primeiro construído o corpo central e esquerdo. Só cerca de 100 anos mais tarde, se construiu o corpo direito. As grandes aletas oblíquas da porta, convidam a entrar. Nota-se a força do eixo principal desde a porta até ao brasão (hoje inexistente). Na sobreposição de pedras parecendo arte de carpintaria, nota-se a influência galega. É de salientar que os melhores pedreiros de André Soares foram galegos.
Por último, observou-se a Fonte da Praça, obra de Marceliano de Araújo, peça extremamente bela. Originalmente era um conjunto de 4 miúdos cuja água jorrava em simultâneo para a taça ao mesmo nível.
Começamos por admirar o formoso Pórtico que se ergue no alto da escadaria semicircular, que ostenta o brasão do arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, que em 1723 mandou construir o primeiro lanço de escadaria e as capelas que o adornam, que segundo o Dr. Alberto Feio, talvez se deva ao coronel de Engenheiros Manuel Pinto de Vila Lobos.
Aos lados, dois parapeitos, rematados em cada um dos extremos por duas pirâmides alongadas.
Entra-se a seguir num pequeno pátio, que precede o escadório, encontrando-se à direita e à esquerda as duas capelas da Via-Sacra, as duas únicas que restam das construídas pelo referido arcebispo.
Cada uma destas tem ao lado uma fonte ornada com alegorias dos deuses da fábula.
Em algumas das capelas conservam-se ainda as figuras primitivas, de ingénuo sabor popular, tantas delas em cenários do século XVIII, o que lhes dá um pitoresco ar anacrónico.
As duas primeiras capelas representam o Cenáculo (à direita) e o Horto à (esquerda).
Após os três primeiros lanços, encontra-se a capela da Prisão, com a fonte de Diana, a das Trevas com a fonte de Marte, a dos Açoites, com a fonte de Mercúrio, a da Coroação, com a fonte de Saturno.
De um espaçoso terreiro circular, desfrutamos de um dos mais belos panoramas da serra sobre o vale.
Voltando-nos agora para o escadório, no topo do qual se vê o belo templo branco a coroar o alto da subida, temos à direita a capela do Ecce Homo e à esquerda a do Caminho do Calvário
Continuando a nossa subida, vamos encontrar a capela de Cireneu, a da crucificação
A ascensão do belo escadório dos Cinco Sentidos, formado por lanços duplos, convergem para patamares centrais, onde se levantam fontes em estilo rocaille sobrepujadas por estátuas alegóricas. Cada fonte é alusiva a um dos sentidos corporais, daí advindo o nome ao escadório.
Chegados ao quinto lanço, sobre o lado direito, encontramos a estátua de Isaac na figura dum cego com as mãos estendidas à procura do filho.
A legenda reza: Chega-te a mim, meu filho, para que eu te toque (Gens.,XXVII.)
Sobre o lado esquerdo encontramos, a estátua de Isaías empunhando uma tenaz com a brasa com que foi tocado pelo anjo, e a legenda: Tocou a minha boca (Isa., VI);

As tarjas que se encontram no sopé destas estátuas são atribuídas a André Soares.
Após atravessar-mos um amplo terreiro, profusamente ornamentado, principia o último escadório, chamado das Virtudes, e levantado no local onde outrora existiram a primitiva ermida e a igreja quinhentista, desaparecida para dar lugar ao majestoso templo actual. É o mais moderno, pois data de 1837, e foi delineado pelo engenheiro Carlos Amarante, a quem a Mesa da Confraria confiou a construção em 1781.
O terreiro anexo ao templo leva-nos à capela do Descimento que se eleva junto da pérgola do elevador, e perto da qual podemos observar uma fonte cuja autoria é da autoria de André Soares
Continuando a subir passamos junto da esplanada do Grande Hotel, e chegamos ao largo das Três Capelas ou terreiro dos Evangelistas.
As fontes, que se encontram localizadas segundo os pontos cardiais, são dedicadas aos Evangelistas.
A primeira das três elegante capelas - a da Aparição a Madalena; e a segunda, a da Ascensão, são atribuídas à autoria de André Soares.
Completa este conjunto a capela de Emaús.